abril 17, 2014

Mad Season

O título da postagem se limita apenas ao nome da banda justamente por possuir uma carreira curta de um herdeiro: Above.



Dentro de uma clinica de reabilitação, McCready conheceu um baixista local, John Saunders, e junto a Staley, na época em hiato com AIC, e o baterista B. Martin nasce Mad Season, parto normal. Tendo a ideia original surgida dentro de duas mentes em recuperação por drogas, somado aos problemas semelhantes de Layne, não é de se espantar as letras que fazem peso às canções. O que chama a atenção é o ambiente que se cria nesse projeto; mais do que o rótulo que carregam de grunge, o som do grupo é um blues cinza feito concreto.

A primeira música do álbum já demonstra claramente o clima soturno em que os integrantes viviam na época. Wake Up é uma baita declaração de desespero – outra palavra que define muito bem a musicalidade apresentada. Lenta e timidamente, a canção começa com o baixo que por todo o restante te prende na melodia. Como companhia surgem toques na guitarra como que por acaso palhetasse nas cordas avulsas em conjunto a leves batidas da bateria. No mesmo passo da harmonia, também tímido o vocal surge desconfortável de estar ali numa mesa em que não tem intimidade com ninguém. Mais do que apenas a intro de uma música, é a intro fidedigna de todo o trabalho que está por vir. Seu ápice é formado em uma explosão da bateria com arranhos na guitarra e uma voz grunge suja, findando na mesma calmaria que iniciou.

Na sequência, X-Ray Mind apresenta uma percussão experimental que aparecerá ainda mais em outras faixas. Confesso que, ouvindo pela primeira vez, ainda estava apaixonado por Wake Up e nada me traria maior encanto, mesmo já tendo passado pelo hit River of Deceit e pela I’m Above com um belíssimo solo de violão, e onde Mark Lanegan empresta sua voz, até ouvir Artificial Red. Blues, quase que puramente blues, ficava maravilhado ao poder ouvir Layne interpretando um som desses.

Pegue uma madrugada de inverno e entre em um daqueles bares minusculos sob o solo, com um neon piscando quase queimado na fachada. Sente em uma mesa de madeira lascada e à sua frente, ao fundo do espaço, por cima de chapéus e cabelos, em um palco de trinta centímetros do chão, escondidos pela fumaça densa de tantos cigarros acesos, por conta da permissão da lei da época, estão uns caras tocando blues. Mad Season, Artificial Red.

As duas próximas faixas, Lifeless Dead e I Don’t Know Anything, são as que mais chegam próximo a um grunge pitoresco. Reflexo verossímil da carreira que os integrantes já participavam; não me espantaria se visse alguma delas em um trabalho de Alice in Chains. E então, como uma terceira injeção de êxtase, após Wake Up e Artificial Red, vem a oitava faixa, Long Gone Day. Canção mais experimental do álbum, excelente viagem acústica composta por batuques de percussão, cello, um sax fazendo jus ao blues, e Lanegan contribuindo nos vocais mais uma vez. Tamanho experimentalismo aqui que lembrei instantaneamente de Tom Waits ao ouvi-la. Cabível no mesmo bar do neon quase queimado.

As duas ultimas musicas são a conclusão do que lhe foi passado. November Hotel, mais experimentalismo, batuques, variações e solos em efeitos, é um instrumental fora de todo o preceito criado com as canções anteriores, seguida de algo que poderia se considerar sua extensão, All Alone. Praticamente um mantra, calma, demonstra a retirada do trabalho com a mesma timidez lúgubre em que chegou.

Não há uma única canção ruim.

O grupo se desfez quando os integrantes começaram aos poucos a voltar a seus respectivos projetos principais, culminando no seu mais do que certo fim com a morte de Saunders. Sem dúvida um grupo que teria feito muito sucesso se fosse adiante, entretanto conseguiram deixar aqui seus gritos de desespero.